Rotas Brasil explora uma nova fronteira para o turismo de aventura, no portal da serra do mar. Parque ainda pouco explorado abriga o maior conjunto de cavernas do Brasil.
Texto: Carlos Rodrigues
Fotos: Nilo Pavarini
Uma surpresa a cada passo. Uma passagem mais estreita e, repentinamente,
uma grande catedral de pedra, com colunas que parecem ter sido entalhadas caprichosamente
por um artesão. Estalactites (formações que surgem do teto) e estalagmites, que
avançam do chão, entre outros espeleotemas, formam ambientes fantásticos. Nosso
destino dessa vez foi o Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira),
uma reserva de 35.772
hectares , que abrange os municípios de Apiaí e Iporanga,
no vale do Ribeira.
O principal atrativo do parque são as cavernas. Após
aproximadamente 60 anos de registros oficiais, já foram catalogadas mais de
400, o que faz do Petar o maior conjunto de grandes grutas do Brasil, um
paraíso para a espeleologia. É na reserva que está localizada a “Casa de
Pedra”, maior boca de caverna do mundo, com mais de 215 metros de altura no
sumidouro (entrada).
No “parque das pedras”, a natureza mostra sua força, mas por
motivo de segurança, apenas doze das centenas de cavernas quilométricas e
labirínticas estão abertas à visitação. Além dos perigos aos aventureiros
desavisados, há grande interesse na preservação do local, por isso as normas
que regem o Petar são rigorosas e somente visitas monitoradas podem ser feitas.
Mesmo com as restrições, impostas pela natureza ou pelos
órgãos ambientais, aos poucos esse potencial extrapola o campo científico e
avança em direção ao turismo ecológico. Os ingressos custam a partir de R$ 4,50
(estudantes), mas para explorar o Petar é preciso mais que energia; são
permitidas visitas somente na companhia de um monitor qualificado, vinculado a
uma agência autorizada. O serviço custa, em média, R$ 40 por pessoa e inclui
locação de equipamentos de segurança e seguro de atividade.
Atualmente, o Petar está dividido em cinco núcleos. O mais
visitado é o Santana, que conta com boas alternativas de hospedagem e áreas de
camping. Entre as opções, destaque para a Pousada Vale do Bethary.
Localizada no alto da serra, a fazenda está cercada pelo vale do rio Bethary,
um dos mais preservados rios da bacia do Ribeira. A cerca de cinco quilômetros
da pousada, fica a sede da Ecocave, uma das agências pioneiras na realização
das visitas monitoradas às cavernas.
Aventura – A
estrutura de serviços receptivos ainda está em desenvolvimento, por isso quem pretende
visitar o parque deve estar preparado para uma verdadeira aventura, que começa ainda
durante a viagem. Só é possível chegar aos principais núcleos, onde estão localizados
os atrativos e a estrutura receptiva, após vencer sinuosas estradas, antigas
trilhas de tropeiros e escravos.
Uma das rotas, partindo o interior paulista, passa pela surpreendente
SP-164, que liga Apiaí e Iporanga. A estrada de terra, com trechos de saibro,
se eleva na serra, margeada por penhascos de até 600 metros de altura. No
caminho, pequenas vilas se formam em volta dos vales, com sua população simples
e acolhedora.
Em uma maratona de 30 horas, a equipe Rotas Brasil superou o principal roteiro turístico do Petar,
considerado pelos guias de dificuldade “moderada”, e visitou os núcleos Santana
e Ouro Grosso, localizados perto do Vale do Bethary.
No núcleo Santana, uma surpresa logo na chegada: um mirante
com uma rosa dos ventos no chão guarda o mistério de uma região que emana
energia. No centro da imagem, com o corpo voltado para o norte, é possível
sentir a vibração da própria voz e uma pressão energética sob os pés. Os guias
desconversam, brincam e dizem que a estranha sensação é provocada pela magia do
lugar, nada que a física e a geologia não possam explicar, mesmo assim,
especialistas e guiam preferem manter o mistério.
A experiência na rosa dos ventos mostra que o Petar vai
muito além das cavernas. Visitas a cachoeiras, passeios por trilhas, banhos em
piscinas naturais, rapel, tirolesa e bóia cross,
são algumas atrações em vários núcleos, especialmente no Santana.
A facilidade de acesso às fantásticas cavernas também fazem
da unidade a mais movimentada. Na caverna Santana, o turista pode fazer um
percurso de até 800
metros . A partir disso, somente pessoas autorizadas
(normalmente pesquisadores) tem permissão para ultrapassar.
O monitor da agência Ecocave e biólogo, Gilmar Rodrigues, foi
um dos guias da nossa expedição. Ele explica que esse tipo de formação natural
é um exemplo da ação das águas sob as rochas. As cavernas do Petar foram
escavadas ao longo de milhões de anos, por rios e pela água da chuva.
No interior das fendas, a mesma ação das águas esculpe os
espeleotemas, em grupos característicos, de acordo com o minério que o compõe.
Em média, são necessários 50 anos para que uma formação seja ampliada em um
centímetro. Fica difícil até imaginar o tempo necessário para o gotejamento
criar colunas (encontro de estalactites e estalagmites), cortinas e formas
inusitadas, que na imaginação humana imitam objetos do cotidiano na superfície.
Em algumas cavernas (as mais adequadas para o turismo), são
poucas passagens estreitas. Algumas intervenções nas áreas abertas a visitação,
como escadas e passarelas, ajudam o trânsito e tornam ainda mais remotos os
riscos de acidentes. Apesar da rica fauna, no interior das fendas, poucos
animais são avistados.
Além da contemplação visual, há algumas atrações sensoriais
à parte. O constante gotejamento ou o toque sutil em um espeleotema são capazes
de produzir acordes. Em outros salões de pedra, o silêncio mostra que nunca é
absoluto e alguns dos sons mais sutis da natureza podem ser revelados.
Poucos ambientes como uma caverna, podem proporcionar a
experiência da ausência total de luz. Aparentemente inóspitas, as grutas do
Petar são perfeitas para um encontro autêntico com a natureza.
Administrado pela Fundação Florestal, uma instituição
vinculada à Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, o Parque Petar
conta com um gestor especializado e uma equipe de monitores.
Para dar mais comodidade ao turista, o parque faz obras de
melhorias (pontes, passagens e estrada), licitou nova concessão para uma
lanchonete e tem ampliado o espaço do visitante, onde é possível descansar,
fazer refeições, consultar mapas, catálogos e informações sobre a reserva.
O biólogo Luiz Rodrigo Pisani Novaes, responsável pela
administração, afirma que tem sido feitos vários investimentos para melhoria da
estrutura, ampliação da segurança e maior divulgação do Petar, para atrair um
“turismo qualificado”.
Reduto de pesquisadores, estudantes e aventureiros
experientes, o Petar quer atrair turistas que nunca sonharam em entrar numa
caverna. Mas para isso, é preciso divulgar, na mesma proporção, a consciência
da preservação e das regras que regem o parque. “Temos leis federais a cumprir,
por isso é preciso muita responsabilidade nas visitas”, afirma.
Novaes destaca ainda que algumas regras simples, como
limitação de número de visitantes por grupo (restrições variam de acordo com
cada núcleo), uso de equipamentos de segurança, horários de visitas,
cumprimento integral do roteiro e respeito às determinações dos monitores devem
ser observadas.
Do Petar, levam-se apenas fotos e recordações. Cada objeto
ou organismo vivo da fauna e flora deve permanecer no seu ambiente, sujeitos
apenas à intervenção da natureza.
Na próxima semana,
Rotas Brasil publica a segunda reportagem dessa série, com detalhes de outros locais
do parque e especialmente dicas de hospedagem e monitoria, além de informações
sobre itinerário e custos da viagem.
Agência Petar Ecocave
Estrada Iporanga-Apiaí, km 13
Contato: (15) 3556-1574
Pousada Vale Bethary
Estrada Iporanga-Apiaí, km 13
Contatos: (11) 5034-7556 / 9389-1998 /
(15)
3556-1126 / (11) 6453-9840
Fundação Florestal
Contato: (11) 2997-5000
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