quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ecoturismo: Belezas do Petar despertam espírito aventureiro, sem “nocautear” o bolso.


Em pleno início de alta temporada, numa época em que o ecoturismo se torna cada vez mais caro, parque estadual tem opções acessíveis de serviços e hospedagem


Texto: Carlos Rodrigues
Fotos: Nilo Pavarini

Antes inacessível pelos próprios obstáculos naturais e inexistência de estrutura de serviços, agora inacessível devido aos custos.  Assim tem sido o turismo de aventura, em algumas regiões do sudeste brasileiro. A exploração comercial de destinos badalados jogam as contas nas alturas e provocam calafrios, em época de presentes, rematrículas escolares e impostos.

Na segunda reportagem da série sobre a viagem ao Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), Rotas Brasil mostra que o “mundo de pedra” está mais acessível do que parece.

Para quem está na região da Alta Paulista, Vale do Paranapanema ou centro-oeste do Estado as vantagens começam na estrada. Entre os 490 quilômetros (rodovias estaduais e uma federal) de Marília a Iporanga, por exemplo, são apenas duas praças de pedágio, uma delas na rodovia Transbrasiliana (BR-153), em Lupércio, e a outra na rodovia Francisco da Silva Santos (SP-127), entre Itapetininga e Capão Bonito. Uma conta de R$ 10,60 somadas as duas cobranças.

 Outra rota (75 quilômetros mais curta) margeia a divisa com o estado do Paraná a partir de Ourinhos, passando pelas cidades de Fartura, Taquarituba e Itapeva. Nesse caso, apenas um pedágio (R$ 2,60), mas o barato pode sair caro, já que são pelo menos 50 quilômetros de estrada em péssimas condições, principalmente a partir de Itapeva.
 
Superada a estrada, a parte mais maçante da viagem, é hora de aproveitar as diversas belezas do Petar. A cidade de Apiaí, onde existem remanescentes e comunidades quilombolas, é o principal centro urbano em turno do parque. Fica a cerca de 30 quilômetros de distância dos principais núcleos do Petar, onde as cavernas e cachoeiras são os principais atrativos.

Onde ficar?

Na década de 90, quando a psicóloga paulistana Maria Dulce Tournieux “descobriu” a reserva, logo surgiu a ideia de transformar o sítio que havia acabado de adquirir em uma pousada. Ela conta que na época o local era considerado extremamente isolado, um ambiente até inóspito para alguns “urbanóides” mais radicais, porém com o tempo, o turismo científico e, principalmente, o ecológico, deram nova cara para o Petar.

 Havia pouca projeção de retorno para o investimento. “Meu marido chegou a brincar: que hobby caro, hein? Quando eu vinha para cá, precisava trazer absolutamente tudo. Foi um tempo difícil”, lembra a proprietária da pousada Vale do Bethary, que hoje comemora os resultados, como uma das principais alternativas de hospedagem do Petar.

A pousada conta com piscina, apartamentos (12 acomodações para até seis pessoas), com opções de frigobar e ar condicionado, refeitório (somente para café da manhã) e ampla área verde. A fazenda também é dedicada a atividades agrícolas, porém a estrutura receptiva é o caro-chefe e principal fonte de renda do empreendimento.

Dulce conta que, no Petar, a temporada não é bem definida. Durante o ano, o movimento é alavancado pelo turismo científico e pedagógico, nas férias as porteiras (e cavernas) se abrem para os aventureiros. Os serviços são integrados e os grupos recebidos nas pousadas contam com assistência para acionar as empresas autorizadas, que oferecem guias e equipamentos de segurança.

Quando se pensa em exploração de cavernas, logo vem à mente os mochileiros, mas a empresária e psicóloga percebe uma mudança de perfil. “Temos observado um número cada vez maior de casais vindo para cá”, revela. Resultado da valorização do ecoturismo, já que esse público costuma ser mais exigente.

 Mas para evitar frustrações, fica uma dica da equipe Rotas Brasil: um passeio romântico no Petar pode acabar mal, se o casal não se ligar que ecoturismo (especialmente no Vale do Ribeira) não se faz em suíte de pousada. É preciso entrar no clima de aventura e relaxar. Na bagagem não podem faltar repelentes, camisetas “surradas” para detonar e um bom tênis com solado antiderrapante.

Com exceção de alguns quiosques e lanchonetes, o lugar não conta com churrascarias de rodízio e nem praças de alimentação para pedir fast food. O “prato” mais consumido é o popular lanche de trilha, que custa em média R$ 15 (incluindo barras de cereais, frutas e sucos) e oferece uma suficiente dose de energia para substituir um almoço e um lanche da tarde.

Para o jantar no Petar, uma sugestão são os restaurantes rústicos e charmosos, estilo “bicho-grilo”, muito frequentados pelos universitários que durante todo o ano exploram as cavernas. Os grupos vem de universidades de todo o Brasil e chegam a promover uma certa “vida noturna”, em alguns dos principais núcleos do parque.

Os futuros engenheiros e tecnólogos da Unimonte (de Santos) fazem parte deste contingente. O grupo de 34 pessoas conferiu uma expedição nas cavernas, durante a passagem de Rotas Brasil pelo Petar. Para a estudante Edna Duarte, aluna do curso de engenharia de Petróleo, a reserva é também um santuário de informação. “Aqui podemos ver de perto uma excelente amostra da realidade que vamos encontrar durante o trabalho, em campo. Não daria para estudar geologia sem conhecer lugares como este”, afirma.

Na ponta do lápis, em uma equação que some diversão e natureza, subtraindo-se qualquer mau humor com os obstáculos e a infraestrutura em desenvolvimento, o “Parque de Pedra” é mais que viável. Para estudantes, cientistas, aventureiros profissionais ou amadores, o Petar mostra que o esquecido e discriminado Vale do Ribeira é sim um excelente destino turístico.

Camping e agências completam os serviços


Espeleólogo desde 1987, o empresário Sérgio Ravacci de Oliveira passou a ganhar a vida no Petar há dez anos, quando tirou do papel a agência Ecocave. É uma das principais empresas credenciadas para promover vistas às cavernas do parque. A paixão pelas grutas do Alto Ribeira fez com que ele se mudasse para o lugar. O resultado foi uma opção de vida integrada com a natureza.

Ele explica que o parque possui lugares fantásticos, conhecidos por poucos. Algumas cavernas, que possuem boca relativamente estreita, contam com catedrais onde é possível fazer escalada e rapel de dezenas de metros. Para evitar acidentes, a maioria destes pontos está fechada à visitação e há controle rigoroso, tanto para prática de esportes de aventuras quanto para expedições científicas.

 Mesmo com as limitações, as doze cavernas que estão abertas à visitação tem o poder de surpreender o visitante. Para conhecer todo o parque seriam necessárias semanas e uma grande estrutura, em pontos de apoio que podem incluir diferentes pousadas (devido às distâncias).


Com mais de 50 mil visitantes por ano, há muito trabalho a ser feito para garantir a segurança dos turistas no Petar. A missão da Ecocave, explica ele, é garantir que ninguém se machuque e que natureza continue preservada. Para isso, a agência conta com um time de guias qualificados, a maioria graduada em ciências biológicas, aptos tanto no apoio físico e logístico quanto na necessidade de informação dos aventureiros.


 O custo médio é de R$ 40 por pessoa, incluindo equipamentos e seguro de atividade. O empresário explica que acidentes no Petar são raros, porém é seu trabalho evitar que eles aconteçam. “O trabalho é intenso, o número de turistas é cada vez maior, mas não podemos perder o foco na qualidade e nos detalhes. Sem segurança, não há exploração viável”, finaliza Oliveira.

Monitorias – Os visitantes contam ainda com a experiência de homens como Waldemar Antonio Costa, o Dema. Monitor da Fundação Florestal, entidade ligada ao governo do Estado de São Paulo e responsável pela administração do Parque, o guia parece conhecer cada centímetro das cavernas, além de detectar e explicar as mínimas mudanças nas paredes e nos espeleotemas (formações).


Um dos momentos mais interessantes vivenciados durante a expedição da equipe Rotas Brasil foi o convite do guia para uma experiência sensorial em um dos principais salões, no trecho final (aberto à visitação) da caverna Santana. É hora de apagar as lanternas dos capacetes, “ouvir o silêncio”, “enxergar” na ausência total de luz e fazer um exercício de imaginação.

Sob a terra, a centenas de metros da superfície, a sensação é de um encontro consigo mesmo, sob as bênçãos da austera e protetora mãe natureza. A mesma que pune seus filhos com tempestades e desastres provocados pela ingratidão, mas que brinda os “justos” com um espetáculo de contemplação capaz de mexer com todos os sentidos humanos.


Rotas Brasil curtiu

Agência Petar Ecocave
Estrada Iporanga-Apiaí, km 13
Contato: (15) 3556-1574

Pousada Vale Bethary
Estrada Iporanga-Apiaí, km 13
Contatos: (11) 5034-7556 / 9389-1998 /
                 (15) 3556-1126 / (11) 6453-9840

Fundação Florestal
Contato: (11) 2997-5000

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